antónio pinho vargas ou tittytainment

Hoje chamaram-me à atenção do texto que passa a transcrever:

“Sabem o que é o conceito de “tittytainment”? Estamos sempre a aprender. É o tratamento “cultural” que decidiram dar-nos para nos tornarmos eternos adolescentes embrutecidos.
Diz-nos Anselm Jappe: “Em 1995 reuniu-se em S.Francisco o primero “State of the World Forum”, no qual participaram cerca de quinhentas pessoas mais poderosas do mundo (entre outros, Gorbachev, Bush Junior, Thatcher, Bill Gates……) para discutirem a seguinte questão: o que fazer no futuro com os oitenta por cento da população mundial que deixarão de ser necessários para a produção?
Zbigniew Brzezinski, ex-conselheiro do Presidente Carter, teria então proposto como solução aquilo a que chamou “tittytainment“: às populações “supérfulas” e potencialmente perigosas em virtude da sua frustração, seria destinada uma mistura de alimento e entretenimento, de “entertainment” embrutecedor, para se obter um estado de letargia feliz semelhante à do recém-nascido que bebeu leite materno do seio (tits em jargão americano) materno.
Por outras palavras, o papel assegurado tradicionalmente pela repressão – enquanto estratégia para evitar conflitos sociais – passa a ser em larga medida acompanhado pela infantilização. A relação entre a economia e a cultura não se limita portanto à instrumentalização da cultura pela economia […] A relação entre a fase actual do capitalismo e a fase actual da “produção cultural” é ainda mais directa. Existe um isomorfismo profundo entre a indústria de entretenimento e a deriva do capitalismo para a infantilizaçao […] O enorme desenvolvimento da indústria de entretenimento é simultaneamente causa e consequência da proliferação do narcisismo. Assim esta indústria é uma das principais responsáveis pela verdadeira “regressão antropológica” para a qual nos arrasta o capitalismo”. […] Este capitalismo pós-moderno representa a única sociedade da história a ter promovido uma infantilização em massa dos seus membros e uma des-simbolização [ na qual se baseava a educação tradicional] em larga escala. Assim tudo contribui para manter o ser humano numa condição infantil: da banda desenhada à televisão, das técnicas de restauro das obras de arte antigas à publicidade, dos jogos de video aos programas escolares, dos desporto de massa aos psicotrópicos, da Second Life às exposições nos museus, tudo concorre para a criação de um consumidor dócil e narcisista que vê no mundo inteiro uma extensão de si próprio, governável através de um clique de rato.
A pressão contínua dos mass media e a eliminação contemporânea tanto da realidade como da imaginação, preteridas em função da reprodução chã do existente, […] a desvalorização contínua do que outrora constituía a maturidade das pessoas e do que fazia o encanto da criança, substituídas por uma eterna adolescencia retardada.” [103-105] Justifica-se amplamente a leitura desta conferência sobre Economia e Cultura no seu todo. A análise e os dados que Jappe apresenta são muito ricos. NO caso da reunião referida aquilo que nos parece na nossa inocência, resultado da mera evolução dos media face à cultura não é apenas resultado da busca de lucro, é afinal objecto de decisões e reuniões internacionais cujas decisões têm um papel crucial da criação de cidadãos submissos em que nos tornámos.
in Jappe, Sobre a Balsa da Medusa: ensaios acerca da decomposição do capitalismo, [2008, conferência no México]
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Enquanto Mãe, torna-se minha obrigação ensinar os meus filhos a apreciarem a vida, a natureza, os prazeres do dia-a-dia, mas enquanto Mãe do século XXI, sou obrigada a reconhecer que eles ficam felizes se passarem o dia em frente a um monitor, qualquer que seja ele. É verdade que se lhes apresentar uma alternativa, do género: um passeio de bicicleta, um piquenique, um jogo do Monolólio, uma leitura de um livro, eles alegremente aderem, mas a vida não me permite muitos tempos de lazer.
Cada vez mais os jovens, as crianças, estão habituados ao facilitismo, à proximidade da informação, através de um clique, através de um telefonema. Perdem-se os hábitos de trabalho, a vontade de aprender e melhorar. Perde-se a vontade de partilhar, de conversar, de ouvir. Tudo é instantâneo, tudo é simples. No entanto, esse tudo é também assustador.
Longe vai o tempo em que a minha Mãe e os irmãos brincavam ao “mata”, com uma bola de trapos e meias. Longe vai o tempo em que eu e os meus primos nos divertiíamos com um clube inventado por nós mesmos. Fazíamos festas de Natal, de Carnaval, até editavamos um jornal, julgo que mensal, que depois vendíamos à família.
Hoje em dia, nos (poucos) convívios de família, tenho de obrigar os meus filhos a deixarem as Nintendo’s e as PSP’s em casa, caso contrário veria uma série de primos juntos, cada um a olhar para o seu ecrã.
Os tempos modernos são fantásticos, mas as minhas saudades ficam pelos antigos…

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